segunda-feira, 1 de agosto de 2011

'Queremos legalizar a música digital', diz brasileiro do Grooveshark


O futuro da música não pertence ao iPod. Nos próximos anos, ela viverá na nuvem. Apple, Google e Amazon já anunciaram serviços de armazenamento e consumo de músicas via streaming.

E o serviço europeu Spotify, com mais de 15 milhões de músicas em seu catálogo online, acaba de chegar aos EUA.

Em um mar cheio de tubarões, o Grooveshark, pequena empresa criada em 2006 por três estudantes da Universidade da Flórida, nos EUA, já acumula mais de 10 milhões de usuários cadastrados.

O site, que funciona como um aplicativo na web para tocar qualquer uma dos milhões de músicas disponíveis, tem como seu primeiro funcionário o brasileiro Paulo da Silva.

Contratado no início da empresa, quando ela nem sequer tinha um escritório, ele é hoje engenheiro de software sênior e recruta novos desenvolvedores e programadores para expandir o site.

Confira os principais trechos da entrevista.

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Você trabalha no Grooveshark desde quando?
Paulo da Silva - Eu estou desde que o projeto começou, em 2006. Estava no primeiro ano de faculdade, na segunda semana de aula. Entrei como primeiro funcionário, além dos três fundadores. Na época eles não tinham dinheiro, só tinham uma sala alugada e uma ideia.

Como foi a entrevista de emprego?
Eles alugaram uma sala muito pequena em uma parte bem feia de Gainesville (EUA). Cheguei ao local e havia apenas um cartão colado na porta com fita adesiva. Quando entrei, os três fundadores estavam lá, de bermuda e chinelo. Eu tinha 19 anos e eles estavam na mesma faixa de idade. Como eles não tinham dinheiro, a sala nem sequer tinha mesa --eles usavam caixas de papelão para apoiar os computadores.

E o que o fez acreditar neles?
Principalmente pela experiência, mas também pela proposta que eles apresentaram. Eles disseram: "A nossa ideia é criar um sistema ponto a ponto de música que vai legalizar o formato digital, e nós vamos concorrer com o iTunes". Na época eu não acreditava muito, mas queria a experiência. Comecei programando e hoje faço treinamento e recrutamento de novos desenvolvedores.

A empresa existe desde 2006, mas só em meados de 2008 houve uma explosão de acesso e divulgação do site. O que aconteceu de diferente?
No começo, nosso modelo de negócio era uma rede ponto a ponto, como o Kazaa, mas em um formato legal. Nós tínhamos um programa, e o usuário pagava US$ 0,99 por música --quem fazia o upload do arquivo recebia US$ 0,10, e o restante ficava para as gravadoras. Mas o fato de ter que baixar um programa e se cadastrar para participar diminuía o interesse dos usuários.

E qual foi a solução?
Em junho de 2008, nós tínhamos entre 10 mil e 15 mil usuários, e o dinheiro estava acabando. Decidimos mudar o formato e lançamos um site simples que tocava qualquer música que você quisesse, em um sistema muito mais intuitivo, sem necessidade de cadastro e que pode ser acessado de qualquer lugar. Em um mês o serviço foi criado e em dois meses nós já tínhamos 50 mil usuários. Demoramos para chegar a 1 milhão. Não foi da noite para o dia, mas não paramos de crescer.

Há quanto tempo você não compra um CD?
Eu nunca comprei muitos CDs, mesmo quando morava em São Paulo. O único que eu lembro que me esforcei mesmo para comprar foi o dos Mamonas Assassinas. Mas o último deve ter sido no início dos anos 2000.

O Grooveshark depende muito da colaboração dos usuários que enviam conteúdo para os servidores. Como isso funciona?
Cerca de 50% do conteúdo vem de 10% dos usuários. Agora o número vem crescendo por causa de parcerias com gravadoras.


Recentemente, o Spotify chegou aos EUA e surgiu como concorrente do Grooveshark. Quais os próximos passos do serviço?
Manteremos a estratégia. Nos outros países em que o Spotify existia antes dos EUA, somos líderes. Continuaremos com a mesma filosofia, porque nós amamos música.




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